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Uma vignette para ’45 dias na Europa com Sr. Darcy’

Mais um festival de fanfics, agora de Inverno, e ’45 dias na Europa com Sr. Darcy’ ganha forma.

Vem conhecer esses Darcy e Lizzy…

 

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DIMENSÕES MAIS CLARAS

 vignette, livre, angst + fluff, moderno O&P

Realmente não é possível controlar as rédeas do destino.

Uma pessoa pedante e marcada pela crueldade de eventos inesperados pode até tentar, mas com certeza não alcançará resultados positivos. Tem sido assim desde Eva, a maçã e ao mau humor de Adão quando teve que procurar outro lugar para viverem após a ordem de despejo. O tiranossauro Rex tentou mostrar ao destino que ele era o rei do mundo jurássico gritando de peito aberto do alto de uma montanha durante a tempestade de poeira quando o meteoro caiu, e não deu certo.

Pessoas mais experientes podem atestar que é uma verdade universalmente conhecida, tanto quanto temida, que o é destino quem brinca com as nossas vidas. E não o contrário.

O Fitzwilliam Darcy de alguns meses atrás diria que o destino não tinha nenhuma influência em sua vida. Desde que havia alcançado a maioridade alguns anos antes, ele havia assumido as rédeas da sua vida se livrando da jurisdição de seus tios e controlava sua herança, uma das cinquenta maiores da Inglaterra. Uma vez independente financeira e judicialmente, William Darcy (como ele preferia ser conhecido), declarou independência também das dores da orfandade.

Seus pais haviam falecido consecutiva, porém não conjuntamente deixando filhos órfãos ainda na terceira infância. Primeiro seu pai descobriu que sua dificuldade em respirar era algo muito pior que o hábito de fumar charutos e a doença o levou à morte em menos de um ano. Logo depois, sem saber como lidar com a dor, o coração de sua mãe enfraqueceu tanto que acabou por parar de bater. Duas crianças inesperadamente deixadas nas mãos dos irmãos de sua mãe que os criaram com todo carinho sem fazer distinção entre seus próprios filhos, mas que infelizmente não podiam ocupar o lugar de seus pais.

 Ele sempre lutou conta o rótulo de pobre menino rico. Quando Darcy completou maioridade ele estava terminando a faculdade. Os poucos anos restantes e os seguintes de MBA calcificaram nele a certeza de que sua vida lhe pertencia e a ninguém mais.

Rico, bonito, educado. Já que seus pais saíram de cena sem cerimônia no meio do primeiro ato, ele poderia decidir como iria conduzir o restante da obra prima. Assim Darcy decidiu que a segunda metade dos seus vinte anos seria vivida sem limitações e para tanto, todas as responsabilidades ligadas à gerência de sua fortuna continuariam a ser de seu tio Earl Fitzwilliam e de sua tia Catherine F. de Bourgh.

Gentil nas ações nem sempre nas palavras, caladão, arrogante. Darcy sabia que seu jeito incomodava algumas pessoas. Considerando que ele se sentia bem consigo mesmo e Gegê estava de bem com a vida, pouca coisa mais tinha importância suficiente para fazê-lo rever suas crenças e domar sua timidez.

Poliglota, prático, sagaz. Desde que decidiu curtir seus vinte e poucos anos, Darcy tinha visitado todas as capitais da Europa e boa parte de suas belezas escondidas, o que a Ásia e a Oceania tinham para lhe oferecer de bom e o paraíso consumista da América do Norte. Viajar era seu hobby que era interrompido somente quando Darcy era requisitado para compromissos familiares inadiáveis: Gegê, sempre que os irmãos combinavam de passar tempo juntos; festas de aniversários; reuniões anuais da mesa diretora das empresas e eventos comerciais que necessitavam de sua presença VIP para fins marqueteiros.

Uma das empresas da família era uma rede mundial de hotéis de luxo que algumas vezes por ano sediava eventos de gala em prol de obras de caridade. Nessas ocasiões, para levantar a atenção da mídia, os herdeiros solteiros eram convocados para abrilhantar a festa tal qual as novas gerações das famílias reais Europeias. William e Gegê Darcy, Anne de Bourgh e Gray Fitzwilliam eram os príncipes do reino De Bourgh Hotels e planavam majestosamente em roupas de grife durante tais eventos.

Foi pelo Baile de Gala do De Bourgh Amsterdam que Darcy deixou Gegê num amargurado autoexílio em sua fazenda no norte da Inglaterra, Pemberley, e foi com seus amigos mais chegados para a Holanda.

Foi assim que Darcy conheceu Lizzy Bennett que coincidentemente tinha uma grande amiga trabalhando no hotel da família dele.

Morena, graciosa, atrevida. Filha de pai Inglês e mãe Brasileira de origem Escocesa, ela era um furacão que tomava conta de qualquer ambiente apesar da sua estatura mediana. A pele bronzeada pelo sol de Ipanema, o inglês fluente apesar do sotaque carioca carregado e as maneiras espontâneas compunham um cativante cartão de visitas.

Petulante, intrigante, instigante. Quando Darcy foi apresentado à Jane, a nova paixão de seu amigo de escola Charles Bingley que o acompanhava na Holanda, achou incomum uma família tão grande.  Os Bennetts tinham cinco filhas em idades próximas que variavam da adolescência à juventude. Dentre elas, a única que Darcy viu foi a universitária Elizabeth. A moça tinha cabelinho nas ventas!

Audaciosa, impulsiva, questionadora. Qualquer um que já a tenha abraçado poderia dizer como ele estava se sentindo nas poucas ocasiões que Amsterdam lhe proporcionou de tê-la em seus braços. Após alguns poucos dias juntos, Darcy não poderia negar que ela tinha mexido com ele.

Amsterdam foi até generosa com Darcy lhe apresentando Lizzy no momento em que achar uma ficante não estava em seus planos. Se ele tivesse a intenção de ser sincero, diria que Amsterdam tinha sido bastante generosa com ele. Também cruelmente gaiata provendo um cenário encantador para que o destino primeiro criasse a demanda e depois lhe informasse o custo altíssimo.

Quando Lizzy o atropelou no labirinto vivo do parque das flores, o abraço foi inesperado momentâneo. Depois, quando ele finalmente a achou no fim da noite resolvendo o mistério do seu desaparecimento Darcy teve vontade, mas não a abraçou porque ele tinha um autocontrole invejável. Tal qualidade foi especialmente posta à prova na noite em que eles se beijaram e Lizzy fugiu logo depois.

Ela tinha uma maneira deliciosa de flertar com ele fazendo insinuações por muitas vezes inocentes, por vezes maliciosas; o instigando com espetadas que vinham acompanhadas de um irresistível desafio no seu olhar. E como Lizzy sabia se comunicar com os olhos…

Ela era alguns anos mais nova que ele, na verdade ela tinha a idade de Gegê, mas o problema não era esse.

Qualquer um que já a tenha desejado tentaria lhe dizer o que ele sentia por dentro. Era uma bagunça em seu ordenado universo, uma presença explosiva e inesperada. Como ele poderia resistir a convidá-la para dançar no baile de gala? Ela estava linda de salto e vestido de noite, bem diferente do jeito moleca estilosa que ele a tinha visto até então. E ele que já a tinha achado muito interessante antes, ficou hipnotizado quando viu suas belas pernas bronzeadas dentro de meias de seda e a pequena tatuagem indiana no peito do pé esquerdo.

A única coisa que Darcy sempre quis era a impressão de que ela não estivesse fingindo, mas depois que a ouviu conversar ao telefone tão animadamente com ninguém menos que George Wickham, a memória das lágrimas e do silêncio de Gegê tomaram conta dele.

Darcy nunca gostou das aventuras cariocas de Gegê, ele tinha detestado a ideia desde que foi informado. Mas se ele tinha liberdade de viver sua vida como queria isso significava que ele não tinha controle sobre as vidas das pessoas queridas e próximas a ele. Responsabilidade era algo que William Darcy definitivamente não queria assumir.

Gegê e Lizzy… A mesma idade, morando na mesma cidade, no mesmo bairro, se relacionando com as mesmas pessoas… Certamente Lizzy também estava envolvida pelo mesmo canalha, o tom da conversa deles dizia isso a um bom entendedor.

O único que Darcy nunca poderia pensar… Wickham!

Espere um minuto, como ele não pôde ver? Era o destino lhe mostrando que ele não controlava nada que não lhe fosse dada a chance de controlar. Darcy poderia decidir para onde ir na sua próxima viagem, se embarcaria em voo particular ou público, se seria durante o verão ou o inverno. Mas não decidiria quando conheceria uma mulher que mexeria tanto com ele, quando ele ia querer cair das estrelas diretamente em seus braços.

Da maneira que Darcy via, era como se eles tivessem uma conexão direta esperando para ser estabelecida, mas que sofria a interferência maléfica daquele desgraçado interesseiro de bosta.

Darcy podia senti-la… Mas mesmo assim fugiu.

Foi embora de Amsterdam sem trocar contatos ou promessas.

Ele esperava que Lizzy o compreendesse. Apesar do fato de que nenhuma explicação tivesse sido oferecida ou sequer requisitada.

Meses se passaram e Darcy teve a distinta sensação de que sua vida voltara aos trilhos.

Seu universo estava novamente em ordem e ele retomou seus planos de viajar o mundo. Gegê finalmente parecia estar dando a volta por cima, Bingley havia desistido da tolice de também passar algum tempo no Rio de Janeiro e viajara para o Canadá com a irmã, seus tios não o amolavam com os negócios e como bônus, Gray tinha arranjado tempo para acompanhar Darcy pelo mundo.

Gray era o primo mais próximo que Darcy tinha, e talvez seu amigo mais leal. Bingley tinha mais tempo disponível já que sua fortuna lhe permitia imitar o amigo na exploração do planeta pulando de um hotel de luxo para o próximo. Gray ao contrário trabalhava duro determinado a fazer a vida fora do império da família e só tinha tempo para acompanhar o primo mais novo nas férias.

Depois de muita discussão, os primos concordaram em seguir os planos da prima Anne e fazer o caminho de Santiago de Compostela. Não que nenhum dos três fosse particularmente religioso, mas o passeio era afamado. Não que nenhum dos três – especialmente Darcy – considerasse que precisava refletir sobre os rumos que sua vida tomava, mas a rota tinha uma mística inegável. Não que nenhum dos três desse importância a misticismo, mas o livro que romanceava a jornada era um best-seller.

Um best-seller escrito por um brasileiro.

E de novo Elizabeth Bennett invadia a vida de William Darcy.

Num intrincado vai e vem do destino que caprichosamente jogou os jovens milionários para cá e para lá entre as fronteiras da França, Espanha e Itália num zig-zag de luxo, Darcy acabou por descobrir que novamente estava na mesma cidade que Lizzy.

O destino usava agora Milão como cenário para seu jogo desleal.

Não havia em Darcy maneira de expressar a surpresa em ouvir de sua enfadonha tia que ‘a mocinha Brasileira’ tinha excelentes ideias e era uma pena ela ainda não trabalhar para eles como a amiga Charlotte Lucas.

Charlotte, amiga, brasileira, moça. Se as bolhas nos seus pés não o incomodassem tanto, Darcy perceberia que o ritmo acelerado do seu coração era o real responsável pelo seu desconforto.

Depois dos últimos meses empurrando Lizzy para fora de sua mente, vê-la em pessoa e ouvir seu riso solto era fantástico. E o seu olhar desafiador estava ainda mais afiado.

Acreditando retomar a química que dividiram na Holanda, Darcy passou a escolher cuidadosamente o que falar para que sua observação disparasse nela o ímpeto de apertar os olhos negros, respirar fundo e o provocar numa réplica que mereceria uma tréplica e o flerte era absolutamente irresistível.

No momento que Gray testemunhou a troca de farpas entre seu primo e a gostosinha Sul Americana, ele soube que Darcy estava perdido. Alguns meses atrás quando Darcy comentou sobre a menina que tinha conhecido em Amsterdam, Gray pensou que era meramente uma atração inocente. Como Darcy nem tinha o telefone da mulher, o que mais poderia acontecer entre eles? Durante os quarenta dias caminhando pela Espanha, ela foi mencionada passageiramente nas conversas, nunca como o principal assunto.

Mas vendo os dois juntos, dava para sentir a vibe entre eles, era como se fosse tangível, dava para ver no ar. Darcy estava de quatro pela gatinha de nariz empinado que tinha uma maneira diferente de flertar, parecia não gostar dele na verdade. Mas como Gray nunca tinha namorado ninguém dos trópicos, ele não tinha como saber se não era algum costume peculiar. Assim, ele deu força ao primo quando este decidiu investir.

Mas depois de duas semanas convivendo com ela, o destino tinha mais uma surpresa guardada para Darcy.

‘Eu só te dei uma chance por que Gegê insistiu que você era uma boa pessoa!’ Lizzy havia rugido no auge de sua ira. Gegê havia morado no prédio de Lizzy em Ipanema e ainda se falavam com alguma frequência. Mesmo assim ele não soube de nada, não percebeu nada, não entendeu nada.

Para o homem que havia tentado feri-lo contando mentiras para Lizzy sobre Gegê, Darcy poderia facilmente explicar o modo como se sentia: arrasado.

Depois de tê-la em seus braços por uma noite inteira, ele a havia perdido irrevogavelmente: desiludido.

Darcy suspeitava que ouviria as palavras enfurecidas de Lizzy reverberando em seus ouvidos para sempre num modo repetição infinito: destruído.

Por todo o ciúme que ela lhe causou falando do idiota Wickham com carinho enquanto deixava claro para Darcy o quanto ela o desprezava: humilhado.

Nem sozinho no quarto escuro onde ela o havia deixado ele poderia declarar a razão pela qual tentou esconder a verdade sobre o detestável Wickham. No auge da ira por um segundo Darcy cogitou expor toda a nojeira que o amiguinho tão querido dela era capaz de causar na vida dos outros, mas não conseguiu. Apesar da maneira e do quê Lizzy lhe disse, Darcy não queria brigar. Não sobre isso. Não com ela.

E todas as coisas que ela o havia ensinado no instante em que Darcy entendeu a real intenção das insinuações que ele acreditava serem flertes haviam enviado seu futuro para dimensões mais claras. De repente as cores ficaram mais nítidas, tudo entrou em foco.

Lizzy não era intrigante, ela era direta.

Agora ele via a si próprio como ela o via: um playboy abominável e aborrecível. Ela repudiava a maneira descuidada que ele levava a vida e Darcy não havia sido capaz de perceber seu desprezo.

Tudo ficou tão claro que incomodava os olhos.

Uma dimensão tão bem delineada com vetores tão palpáveis onde ela era oposta a ele. Lizzy se considerava praticamente como uma adversária.

Ela nunca saberia o quanto o havia ferido simplesmente porque ele nunca contaria. Nem a ela nem a ninguém.

‘Fique um minuto, não pode ver?’ Ele tomou fôlego para falar antes que se despedissem para sempre. ‘Que eu… Eu quero cair das estrelas diretamente em seus braços? Eu… Eu sinto você e esperava que você tivesse me compreendido. ’

Mas faltou coragem.

Muitos corações estão partidos no momento.

Um em Londres sentado em frente ao computador olhando o formulário de e-mail em branco enquanto a cabeça não consegue achar palavras para explicar o que ele sente, como deve se desculpar, como deve explicar o que realmente aconteceu e como pedir uma segunda chance.

Outro no Rio de Janeiro tentando retomar a vida da mesma forma que fazia antes daquelas semanas na Europa. Seguia sua rotina de faculdade e trabalho, mas agora parecia faltar alguma coisa que na verdade nunca havia estado presente. A distinta e indesejada sensação de lacuna em branco era impalatável.

A dor no arrependimento era muito cruel, tanto do lado direito quando do esquerdo do Atlântico.

As infindáveis possibilidades do que poderia ter acontecido e como deveria ter acontecido davam piruetas nas cabeças de Lizzy e Darcy incessantemente, por mais que eles desejassem passar por cima de tudo.

Uma promessa de amor nunca vem com um talvez, tantas palavras foram deixadas por dizer e tantas outras ditas para machucar.

Se ela não tivesse sido tão explosiva… Mas ele foi absolutamente cretino!

Se ele tivesse sacado que ela era a tal amiga carioca que Gegê falava tanto… Mas ela não comentou nada.

Se os dois não estivessem tão bêbados naquela noite… Mas estavam e se permitiram agir por instinto.

As vozes silenciosas o estavam deixando louco. Darcy não iria conseguir dar a volta por cima se não tentasse o perdão. Ele tinha que se explicar e fazê-la ver o que ele via.

Ele começou digitando: “Depois de toda a dor que me causou, fazer as pazes pode nunca ser sua intenção. Você nunca saberá o quanto me magoou.”

Parou por um instante olhando para a tela do seu computador sem ver nada e depois leu, iluminou tudo e apertou delete.

Por que ela não conseguia ver que ele cairia das estrelas diretamente em seus braços?

Darcy a sentia tão perto e ao mesmo tempo tão longe…

Esperava, não, queria que ela compreendesse.

Do outro lado do mundo, Lizzy estava pronta para cair das estrelas diretamente nos braços dele.

Ela o sentia muito mais perto do que gostaria.

Mas não compreendia.

 

 

.FIM.